O mundo vive uma transição vertiginosa, marcado por sucessivas crises econômicas e pelo aguçamento das mudanças climáticas. Na segunda década do terceiro milênio, os contornos de um novo paradigma tecnoeconômico ficam evidentes ao mesmo tempo em que a perspectiva da sustentabilidade passa a configurar a agenda estratégica dos governos.
Esse processo acelerado de mudanças tem início na metade do século passado e coincide com o refinamento do modelo de desenvolvimento econômico capitalista e a promessa do livre mercado. A criação de instâncias supranacionais de tomada de decisão política permitiu, a partir da globalização, a reorganização destas instâncias no sentido de assegurar uma expansão máxima do mercado.
A análise das dimensões: histórica, política e econômica deste momento de mudanças e incertezas permitem distinguir o papel da inovação em um novo modelo de desenvolvimento econômico: o desenvolvimento sustentável. Duas grandes áreas devem ser obrigatoriamente contempladas nas iniciativas inovadoras: a da energia e a da biodiversidade. A despeito da atuação das instâncias supranacionais, sempre comprometidas com a ideia do crescimento contínuo e perene, idealizado para os grandes oligopólios, acreditamos que a inovação deva se expressar na vontade política dos Estados e nas políticas públicas específicas.
A compreensão dos conceitos que envolvem a inovação em medicamentos da biodiversidade, ou seja, em medicamentos que se originam a partir das diversidades: de espécies, genética e ecossistêmica nos permite constatar que mais de 50% dos medicamentos que compõem o atual mercado bilionário tiveram seu desenvolvimento a partir de moldes de origem vegetal e animal. Esta compreensão permite ainda vislumbrar o potencial do Brasil em liderar as iniciativas de construção de um novo caminho para o desenvolvimento de medicamentos por ser um país megadiverso.
Em 2009, O Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS)/Farmanguinhos/Fiocruz (atualmente Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde- CIBS) organizou um Sistema Nacional de Redes do Conhecimento, voltado para a Inovação em Medicamentos da Biodiversidade – REDESFITO. As redes são articuladas a partir de arranjos ecoprodutivos locais (AEPLs), identificados nos diversos biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa). É neste espaço compartilhado por pessoas ligadas às universidades, aos institutos de ciência e tecnologia, empresas, comunidades tradicionais, agricultura familiar, terceiro setor e governo que ocorre a geração do conhecimento que permite avançar na inovação em medicamentos da biodiversidade a partir de ações práticas desenhadas em projetos estruturantes.
O 1º Seminário Internacional das RedesFito: “Inovação e Biodiversidade na Perspectiva da Sustentabilidade” promoverá discussões sobre : a complexidade do mundo atual, a emergência de um novo paradigma e o papel das políticas de ciência, tecnologia e inovação na perspectiva da sustentabilidade. Serão abordados, também, assuntos relacionados à ciência aberta, à importância do trabalho em rede e ao diálogo entre biodiversidade e biotecnologia.
A fim de reiterar a nossa trajetória voltada para a práxis, este seminário contará com a apresentação da nova Rede de Inovação em Biodiversidade (RIB), estruturada a partir da noção de cooperação para estabelecer serviços de desenvolvimento tecnológico de produtos da biodiversidade. A RIB está organizando um banco de dados a partir dos principais biomas brasileiros. No escopo desta rede, incluem-se, além do setor farmacêutico, os setores de cosméticos, corantes, alimentos, defensivos agrícolas e outros.
As palestras e mesas programadas para este evento propiciarão encontros de especialistas e pensadores internacionais e nacionais que abordarão assuntos relacionados ao tema do evento. Serão apresentados também dois projetos estruturantes com agricultura familiar na perspectiva agroecológica.
No terceiro dia do Seminário será realizada a Assembleia Socianalítica, envolvendo os palestrantes, representantes da Fiocruz e demais participantes. Esta Assembleia será conduzida por especialistas da Universidade Paris VIII visando atender uma encomenda feita pela Coordenação Colegiada do NGBS: "A proposta das RedesFito de inovação em medicamentos da biodiversidade no cenário de transição para o desenvolvimento sustentável”.
Os resumos dos trabalhos apresentados durante o evento e os resultados da Assembleia Socioanalítica serão publicados em uma edição da Revista Fitos.
Contamos com a sua presença.
Glauco de Kruse Villas Bôas