Apresentação
RedesFito é um modelo organizacional dedicado ao desenvolvimento de fitomedicamentos, fitoterápicos e fitoprodutos no Brasil. O sistema reúne redes em diversos biomas brasileiros, formadas por integrantes das áreas acadêmica, tecnológica, empresarial, governamental, agrícola e do terceiro setor. Essas redes se organizam através da identificação de Arranjos Ecoprodutivos Locais (AEPLs), comprometidos com projetos estruturantes para a inovação de medicamentos a partir da biodiversidade. O Sistema RedesFito reconhece que nos AEPLs ocorre a sinapse do conhecimento, não apenas relacionado às plantas, mas também à biodiversidade e sociobiodiversidade, observando como o homem interage com a natureza e como isso varia em cada bioma.
As RedesFito atuam onde a ação acontece, reunindo os diversos atores e organizando as etapas do desenvolvimento de medicamentos a partir da biodiversidade. Em conjunto com seus parceiros, oferecem serviços e produtos nos diferentes biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal), além de contribuir para a discussão de políticas públicas e a implementação de ações e projetos. Baseado em um modelo colaborativo, as RedesFito inovam enquanto organização, não se caracterizando como entidades acadêmicas ou industriais, mas sim como uma rede de conhecimento voltada para a inovação em medicamentos da biodiversidade (Figura 1).
Para facilitar a gestão, a difusão e a comunicação entre seus múltiplos atores e a sociedade, as RedesFito desenvolveram o Portal Eletrônico RedesFito, além de perfis nas redes sociais Instagram, Facebook e um canal no YouTube. Essas plataformas reúnem informações, conteúdos e conhecimentos de forma interativa relacionados à inovação em medicamentos da biodiversidade.
Histórico
A concepção de uma rede organizada a partir de Arranjos Produtivos Locais em cada bioma brasileiro, com foco no desenvolvimento de fitomedicamentos, foi inicialmente elaborada para dar suporte à implantação do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde (MS). Em 2008, o Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) - Farmanguinhos / Fiocruz, atuando no grupo executivo do MS para implementação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), propunha a adoção de um modelo organizacional de baixo para cima, baseado nos principais biomas brasileiros, o que não foi aplicado. Posteriormente, o NGBS, por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS), obteve os recursos iniciais para a organização de um sistema de redes com as características mencionadas, denominado Sistema RedesFito.
Em 2009, durante o IV Seminário das RedesFito, foi realizada a reunião do Conselho Gestor das RedesFito, composto pelos gestores dos conselhos de cada bioma (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa), organizando assim o "Sistema Nacional das RedesFito".
Em 2010, o Sistema Nacional das RedesFito foi oficialmente reconhecido e institucionalizado pela Portaria nº 021, de 30/08/2010, de Farmanguinhos/Fiocruz. É importante destacar que, apesar de ter sido institucionalizado pela Fiocruz, o Sistema RedesFito pertence à sociedade e é composto pelos mais diversos atores sociais, como agricultores, membros da academia, institutos de ciência e tecnologia, empresas, ONGs e outros.
Em 2014, o Sistema Nacional RedesFito assumiu uma nova dinâmica, deixando de lado uma estrutura formal rígida para concentrar suas ações nos Arranjos Eco Produtivos Locais (AEPLs) de cada bioma. No ano seguinte, foi adotado o conceito de AEPL, onde "ECO" refere-se às premissas agroecológicas da rede. Assim, as RedesFito passaram a significar um Sistema Nacional de Arranjos Eco Produtivos Locais, com a missão de desenvolver fitomedicamentos a partir de cada bioma brasileiro.
Em 2018, a gestão das RedesFito passou a ser organizada em Grupos de Trabalho (GTs) em diversos biomas brasileiros, responsáveis pela identificação dos AEPLs e seus atores sociais, além da elaboração de projetos estruturantes para o fortalecimento das cadeias produtivas e o desenvolvimento tecnológico e inovação em fitomedicamentos.
Em 2019, o Sistema Nacional das RedesFito iniciou um processo de reorganização, visando a constituição de Núcleos alinhados com a proposta conceitual das RedesFito, que, por meio de trabalho voluntário, exercem sua gestão local. Esse processo de nucleação visa resolver a questão da identidade e do pertencimento dos atores envolvidos com a gestão das RedesFito. Os Núcleos passaram a ser a voz e a representação das RedesFito no território, transformando a organização de concêntrica para reticular, onde cada Núcleo é um elo da mesma (Figura 2).
Atualmente, mais de 5 mil pessoas, em todo país estão cadastradas no Portal das RedesFito, e mostram interesse no desenvolvimento de fitomedicamentos. Os cadastrados recebem mensalmente o informativo “RedesFito em Foco” e têm acesso ao portal, que também é aberto para a sociedade (www.redesfito.far.fiocruz.br).
Nos AEPLs, concretiza-se o processo de desenvolvimento de fitomedicamentos, fitoterápicos e fitoprodutos da biodiversidade, considerando os aspectos ambientais, ecológicos, climáticos, sociais, históricos, geográficos e econômicos de cada bioma. Nos AEPLs parceiros das RedesFito, destaca-se a preocupação com a questão ambiental, a utilização da agroecologia para o cultivo e manejo das plantas medicinais, e o respeito e valorização do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais construído no território. Em cada bioma brasileiro, as RedesFito atuam orientando os AEPLs e seus Núcleos para que estes formulem projetos estruturantes em rede em diferentes escalas de complexidade, organizando a cadeia de desenvolvimento dos medicamentos da biodiversidade brasileira de baixo para cima.
Os Núcleos envolvem detentores de conhecimento tradicional, pesquisadores, professores, agentes governamentais da saúde e CT&I, empresários, farmacêuticos, médicos, administradores, economistas, representantes de ONGs, representantes de movimentos sociais e comunidades tradicionais. Os projetos estruturados pelos Núcleos das RedesFito contribuem para a identificação e escolha das espécies que poderão ser transformadas por farmácias de manipulação, farmácias vivas, indústrias e laboratórios farmacêuticos em insumos e novos produtos. A estimativa para os próximos anos é a organização de 30 núcleos do Sistema Nacional das RedesFito por todo o país, com equipes interinstitucionais e multidisciplinares elaborando e planejando a gestão de projetos adaptados às necessidades locais para o desenvolvimento de medicamentos da biodiversidade e atendendo aos interesses específicos de saúde e desenvolvimento socioeconômico.
Com diversos núcleos espalhados pelos biomas brasileiros, as RedesFito se destacam como produtoras, difusoras e agregadoras de saberes no território, sempre valorizando o conhecimento e as potencialidades locais.
Perspectivas
As RedesFito foram criadas com o objetivo de promover o uso sustentável da biodiversidade brasileira para o desenvolvimento de medicamentos de origem vegetal, conforme a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Seu propósito é promover o desenvolvimento, de forma cooperativa e por meio de projetos estruturantes, das cadeias ecoprodutivas de fitomedicamentos a partir da biodiversidade. A rede existe onde há ação.
A criação do Sistema RedesFito tem por objetivo pensar o processo de inovação em fitomedicamentos, fitoterápicos e fitoprodutos com base no potencial da biodiversidade brasileira. Dessa forma, auxilia na redução da defasagem e dependência econômico/tecnológica do setor farmacêutico nacional em relação ao padrão mundial, além de desenvolver alternativas viáveis economicamente e ambientalmente na produção de fármacos focados nos problemas e na promoção da saúde da população brasileira.
As RedesFito fortalecem e colaboram com a discussão do desenvolvimento tecnológico e do conhecimento em rede, com base em critérios de sustentabilidade pela perspectiva ecológica. Partindo da premissa de que a inovação é um processo socioambiental dinâmico expresso no território e no tempo, contribuem para a formulação de políticas específicas para cada território e bioma por meio da proposição de um ambiente organizacional em rede, voltado para a inovação, criando um cenário propício para o estabelecimento de cadeias produtivas através das conexões dos diversos atores presentes nos Arranjos Eco Produtivos Locais, considerando que o conhecimento abrange o científico, o tecnológico, o tácito, o popular e o tradicional.
As RedesFito se concretizam por meio da ação de diferentes atores, organizados de forma cooperativa, para desenvolverem projetos voltados à inovação em medicamentos da biodiversidade em diferentes regiões brasileiras. As redes estão organizadas em Arranjos Ecoprodutivos Locais (AEPLs), abrangendo os biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.