Por: Viviane Oliveira

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) iniciou o Seminário Internacional Inovação em Medicamentos da Biodiversidade na Perspectiva Ecológica, que acontece nos dias 12 e 13 de setembro, no Windsor Hotel, no Centro do Rio de Janeiro. O evento acontece de forma híbrida e reúne pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras, representantes de ministérios relacionados com o tema e, ainda, institutos de tecnologia, agências de fomento e de regulação, para apresentar as colaborações na formulação de políticas públicas relacionadas.

Participaram da abertura do evento, a vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Maria de Lourdes Aguiar, o diretor de Farmanguinhos, Jorge Mendonça, e o coordenador do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde (CIBS) de Farmanguinhos e presidente da comissão organizadora do evento, Glauco Villas Bôas. O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, não conseguiu estar presente, devido à agenda institucional, em Brasília. O vice-presidente de Pesquisa e Inovação em Saúde, Marco Krieger, e o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Hermano de Castro, enviaram depoimentos por vídeo.

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                                                                                              (Foto: Peter Illiciev)

Jorge Mendonça, destacou a relevância do evento para a produção de novos medicamentos, a partir da biodiversidade brasileira. “A importância da inovação na prospecção de novos medicamentos à base da biodiversidade é fundamental, principalmente, quando aliados ao respeito de conhecimentos tradicionais e vindos de povos originários. Conseguir alinhar esses conceitos à indústria 4.0, baseada em tecnologias e inovações, pode trazer mais dinamismo e maiores possibilidades de avanços para a obtenção de novas tecnologias e, principalmente, para a sustentabilidade que a gente tanto procura na biodiversidade. É trazer técnicas modernas, com modelagem molecular, digitalização e guarda de dados, uso de machine learning, para agregar valor ao conhecimento tradicional e, assim, conseguirmos sustentabilidade no curto, médio e longo prazos”, comentou.

Com um cenário de emergência climática e mudanças paradigmáticas nas Ciências, Glauco Villas Bôas, falou sobre a inovação em um novo paradigma sustentável. “As preocupações com o meio ambiente e um desenvolvimento mais ecológico integram os debates políticos, econômicos, sociais e ambientais. Os conceitos relacionados à inovação em medicamentos da biodiversidade representam uma base sólida para a formulação de uma política que viabilize efetivamente o potencial da biodiversidade brasileira, de forma ecológica, inclusiva, distributiva, participativa e soberana. O seminário traz a proposta de pensar a bioprospecção em uma grande rede, com instituições de pesquisa, indústrias, um portal de informações que sejam distribuídas, de forma gratuita para o Brasil inteiro, coisas que propiciem o avanço nessas políticas (de inovação)”, explica.

 Maria de Lourdes Aguiar, comentou sobre a criação de um programa institucional, voltado para a biodiversidade, em consonância com o novo posicionamento do G20. “Há um tempo, temos conversado com o Glauco para a criação de um programa, a partir de uma rede de parceiros, contando com algumas empresas, como a Embrapa. Temos um projeto de cooperação bastante avançado, justamente nessas temáticas que acabam conversando entre si, para um programa institucional, voltado para medicamentos na biodiversidade, abordando desde a pesquisa básica até o desenvolvimento de produtos”, destacou. 

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                                                                                       (Foto: Lean Morgado)

Sessão 1: ameaça climática, ciência e desenvolvimento ecológico – para ampliar o debate, com pontos de vista internacionais, o pesquisador do Instituto Missionário da Biodiversidade (IMiBio) e da Universidade Católica de Las Misiones, da Argentina, Erik Ruuth, apresentou abordagens importantes acerca da ciência e do desenvolvimento ecológico, com o olhar medicinal, associando a conectividade do homem com a natureza, que proporciona benefícios diversos, inclusive cognitivos. “Temos que avaliar a maneira como vivemos, pensar em novos usos e mercado para a biodiversidade. Olhar para a natureza, para toda a farmacologia criativa e começar a pensar fora da caixa, para encontrar chances para sobrevivermos. Cooperação e colaboração devem aumentar em todos os níveis, unindo Norte e Sul, com parcerias justas, de forma global”, explicou Erik. 

O pesquisador associado da Universidade Goethe e do Centro de Pesquisa do Clima e Biodiversidade, da Alemanha, Spyros Theodoridis, conversou sobre o novo quadro para a pesquisa em recursos naturais medicinais e a mudança global. “Devemos ter o pensamento de utilização da biodiversidade, de maneira sustentável e equitativa, para tentarmos reduzir as ameaças climáticas. Quantificar componentes, que serão motivações para outras pesquisas e que poderão ser usados como indicadores para diferentes direções e soluções para o uso de medicamentos da biodiversidade. É muito importante a abordagem cinegética, colocando o lado humano e a biodiversidade juntos para termos chance de salvarmos o planeta”, falou.

O professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF/BA) e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais da UNIVASF, Jackson Almeida, explicou sobre a importância da biodiversidade para o desenvolvimento de medicamentos, com a apresentação de exemplos de extratos e compostos naturais, inovadores, para estudos específicos para doenças, como a de Chagas. 

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Sessão 2: bioprospecção, conhecimento e informação da biodiversidade – a Gerente Geral do Biobanco Covid-19 da Fiocruz/Ministério da Saúde, Manuela da Silva, que apresentou o status da repartição de benefícios a partir das sequências genéticas. “Temos que pensar em juntar o setor acadêmico, empresarial, governos, unindo esforços para chegar aonde a gente quer alcançar, para ter capacidade de usar a biodiversidade para o bem da sociedade, unindo esforços para isso.

A representante indígena pelo Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), e Coordenadora da Câmara Setorial das Guardiãs e dos Guardiões da Biodiversidade, Cristiane Pankararu, não pode estar presente no evento e enviou um vídeo, no qual destaca o compartilhamento de saberes e ciências, e analisa os tratamentos de forma individual, com o olhar no paciente. 

O diretor do Departamento de Programas Temáticos, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Leandro Bortolozo, citou o papel estratégico de um programa nacional de bioprospecção. Já a professora titular da Universidade Federal do Ceará, Cláudia do Ó Pessoa, conversou sobre a gestão de um programa nacional de bioprospecção. “Os produtos naturais são fonte inesgotável de novas arquiteturas moleculares. A biodiversidade inspira novos fármacos, que impactam na saúde. Precisamos de uma soberania de política nacional de bioprospecção no país, com margo regulatório, sem entraves”, concluiu.

Ao final do dia, os representantes das organizações se reuniram com a equipe do CIBS de Farmanguinhos para conversar sobre possíveis parcerias entre as instituições. 

Para conferir o evento na íntegra, acesse o canal do Youtube das Redesfito, no link.