Por: Alexandre Matos

Os medicamentos de origem vegetal representam uma fatia de 10% do mercado farmacêutico mundial, movimentando cerca de 20 bilhões de dólares por ano em todo o mundo. O setor cresce também 10% ao ano. No Brasil, o mercado de fitoterápicos mobiliza, em média, R$ 2 bilhões, um número pequeno diante do potencial deste segmento e da riqueza da flora nacional.
 
Para falar sobre este importante tema, na tarde desta quinta-feira (30/1), a pesquisadora de Farmanguinhos, Maria Behrens, apresentou a palestra Da Planta ao Medicamento, realizada na Coleção Temática de Plantas Medicinais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O encontro reuniu profissionais do setor farmacêutico, principalmente interessados na área das plantas medicinais, como pesquisadores, médicos, estudantes, e atraiu visitantes do parque localizado na Zona Sul carioca.
 
Especialista no assunto, Maria Behrens falou sobre o uso de plantas medicinais no desenvolvimento de medicamentos e fitoterápicos. Ela abordou toda a cadeia produtiva, desde a identificação das espécies, passando por pesquisa e chegando até ao desenvolvimento. “São quatro etapas relacionadas à P&D na área de produtos naturais: botânica, farmacêutica, ensaios biológicos e a etapa clínica”, explicou.
 
De acordo com a pesquisadora, os fitoterápicos são uma alternativa para diminuir o déficit da balança comercial brasileira no setor farmacêutico. Para isso, o país deve superar algumas dificuldades. “Entre os pontos críticos, existe uma pequena quantidade de fitoterápicos no mercado farmacêutico; os produtos possuem baixo valor agregado devido à falta de status de medicamentos. Além disso, é elevado o custo de produção”, pontuou.

Maria Behrens abordou toda a cadeia produtiva de fitoterápicos

 

Maria Behrens disse, ainda, que outro problema é a falta de foco nas pesquisas. “Falta um direcionamento para o mercado produtivo. Atualmente, há poucas espécies brasileiras com derivado registrado na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). É necessário investir na pesquisa, envolvendo avaliação da eficácia e segurança de espécies medicinais nacionais”, ressaltou. Além de todos esses pontos considerados críticos, Maria Behrens disse também que é necessário superar a resistência médica em prescrever esses produtos.
 
Outro aspecto que a pesquisadora destacou está relacionado às políticas públicas para plantas medicinais e fitoterápicos. Segundo ela, o Estado brasileiro tem procurado estimular a adoção desses produtos nos programas de saúde pública. “Uma das ações é a criação da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus), que traz uma lista de plantas medicinais com potencial para gerar produtos”, explicou. A lista é composta por 71 plantas de interesse do Sistema Único de Saúde.
 
O objetivo é orientar estudos e pesquisas que possam subsidiar a elaboração da relação de fitoterápicos disponíveis para uso da população. Além disso, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria 533, de 28/3/2012, estabeleceu um elenco de 12 fitoterápicos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) também do âmbito do SUS.
 
Durante o encontro, foram abordados ainda o Complexo Econômico e Industrial da Saúde (Ceis) e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF). Maria Behrens falou também sobre os fitoterápicos como possibilidade de inovação, suas categorias, a complexidade tecnológica e comercialização dos produtos. Ela lembrou a importância dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) e das farmácias vivas.
 
Estudante de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e estagiária da Síntese de Farmanguinhos, Júlia Queiroz foi uma das participantes mais ativas. “Sempre que posso, compareço às palestras aqui do Jardim Botânico, pois sempre trazem algum conhecimento a mais para mim. Na palestra da Maria Behrens, por exemplo, a coisa nova para mim foi a questão política envolvendo as plantas medicinais e os fitoterápicos”, frisou.
 
A sub-curadora da Coleção Temática de Plantas Medicinais do Jardim Botânico, Yara Oliveira de Britto, informou que as palestras do Jardim Botânico ocorrem na última quinta-feira de cada mês. “O ciclo de palestras começou em 2007, com o objetivo de tornar a fitoterapia um tema em discussão. Assim, naquele ano, trouxemos a contribuição do negro na fitoterapia. No ano seguinte, a participação de branco e do índio. Depois, foi a vez de naturalistas e viajantes, que contribuíram com conhecimento”, explicou a bióloga.

O Jardim Botânico é uma instituição que desenvolve diferentes pesquisas e abriga o Centro Nacional da Flora (CNCFlora). A Coleção Temática de Plantas Medicinais existe desde 1988. Atualmente, conta com cerca de 190 espécies, que, por sua vez, possuem inúmeros espécimes (subcategorias dentro de cada uma daquelas). “O formato atual é de comunicação com o público, a fim de tornar a visitação mais didática”, assinalou Yara.