Por: Alexandre Matos e Denise Monteiro
O segundo dia do 5º Seminário das REDESFITO – Inovação em Medicamentos da Biodiversidade em tempos de desenvolvimento sustentável foi marcado por muita emoção e pela composição do novo Conselho-gestor da Redefito Mata atlântica Rio de Janeiro. representado no evento por Mônica Vianna (APL Serrano), Luciana Santos (APL Centro Sul Fluminense) e Thelma Machado (APL Grande Rio). As RedesFito estão em processo de substituição se seus Conselhos-gestores devido término do período de seus mandatos.
O processo de legitimação dos novos Conselhos-gestores acontece a partir da reestruturação dos diversos APLs que escolheráo seus representantes e deste grupo sairão os novos Conselhos-gestores dos biomas.
Atores de Arranjos Produtivos Locais (APLs) dos seis biomas brasileiros - Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pampa, Pantanal e Mata Atlântica (RJ e SP) - trouxeram para o Rio de Janeiro exemplos de casos que deram certo em suas localidades. A troca de informações de projetos desenvolvidos em diferentes pontos do Brasil culminou com a criação de uma rede de contatos para possíveis parcerias entre agricultores, comerciantes e pesquisadores visando a uma política agroecológica mais sustentável.
Assim como o correu no primeiro dia, o coordenador do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde de Farmanguinhos (NGBS), Glauco Villas Boas, destacou a importância da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), criada em 2009, e cuja redação teve a participação da Fiocruz, por meio de Farmanguinhos. Também colaboraram 12 ministérios e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com Villas Boas, o papel das Redes é buscar alternativas de desenvolvimento e formular propostas concretas, e colocá-las na mesa do governo para negociação. “A Redesfito foi concebida como um dos mais modernos instrumentos de inovação do mundo. Nós sabemos que criação de uma proposta de política pública de baixo para cima, ou seja, com propostas da sociedade, é uma coisa ousada no Brasil. O meu sonho é ver no país esse modelo endógeno, e não obsoleto, como o atual”, frisou.
O conceito de inovação utilizado pelas Redes é muito mais amplo do que o desenvolvimento tecnológico de um produto farmacêutico. Neste segundo dia do evento, os atores envolvidos nos projetos propiciaram resultados que mexem com a economia das localidades onde vivem. O projeto agroecológico Profito, por exemplo, é uma das ações em rede. Atende cerca de 150 agricultores da Zona Oeste do Rio de Janeiro. O objetivo é oferecer alternativas de desenvolvimento sustentável com estímulo à produção local através de capacitação dos agricultores. Com isso, eles não só cultivam plantas medicinais, como também outros produtos orgânicos que servem de alimentos, ou são transformados em cosméticos.
Agricultura familiar - Alexandre e Cintia Vieira são agricultores do município de Itaboraí (RJ). O casal entrou para a Rede Mata atlântica RJ no ano passado motivado pela agroecologia. “Já cultivávamos mudas ornamentais, mas, agora, pretendemos focar nas plantas medicinais. Nossa ideia é plantar mudas de plantas medicinais e vendê-las em vasos de cerâmica. Para quem não sabe, a cerâmica é uma vocação do município de Itaboraí há mais de cem anos. Dessa forma, vamos impulsionar também a economia local”, disse Alexandre Vieira. Já a esposa dele, Cintia Vieira, destacou a necessidade de dar continuidade aos encontros das redes. “É importante que todas essas pessoas, de vários arranjos produtivos espalhados pelo Brasil, possam se reunir, pelo menos uma vez por ano. Assim, todos nós podemos trocar experiências e levar ideias para nossos arranjos locais”, enfatizou a agricultora.
De acordo com a coordenadora da Divisão de Redes de Inovação do NGBS, Rosane Abreu, o 5º Seminário conseguiu atingir seus objetivos. “O propósito era integrar os diferentes atores das redes, abrindo parcerias entre eles, consolidando as ações das Redesfito empreendidas em 2013. Além disso, foi importante a legitimação do Conselho-gestor da Rede Mata Atlântica RJ, ratificando o encaminhamento da construção das redes de baixo para cima, a partir dos Arranjos Produtivos Locais”, assinalou. Segundo Rosane, essa construção de baixo para cima significa fortalecer as comunidades locais. “A ideia é que se observem as realidades locais, para que a transformação comece a partir das necessidades e demandas regionais”, explicou.
Patrícia Apolinário é integrante do APL de Itapeva, em São Paulo. Emocionada, ressaltou a importância de se trabalhar em rede. “A agricultura no Brasil está perdendo seus valores. Às vezes me sentia perdida, sozinha, mas hoje percebi nos relatos de todos que passaram por aqui que nós comungamos os mesmos sonhos. É possível, por meio do trabalho conjunto, mudar essa realidade”, disse Patrícia, integrante do Movimento dos Sem Terra (MST).
Denise Monteiro, coordenadora do Portal Fitos, também fez suas considerações sobre o encontro que reuniu pessoas de todas as regiões do Brasil. “Existem dois Brasis: o rico de biodiversidade e conhecimento; e o pobre, que é o doente. Nós podemos ser a ponte entre essas duas partes”, destacou.