Por : Alexandre Matos e Denise Monteiro
Na semana de 4 e 5/12, Farmanguinhos promoveu o 5º Seminário das REDESFITO – Inovação em Medicamentos da Biodiversidade em tempos de desenvolvimento sustentável. O encontro teve como objetivo definir as bases para a integração entre áreas estratégicas para inovação em medicamentos da biodiversidade brasileira, visando ao desenvolvimento sustentável. Reuniu representantes das 367 instituições ligadas às Redesfito em todo o Brasil. Dentre elas estão órgãos públicos, instituições acadêmicas, empresas privadas, associações de agricultores e ativistas sociais e ambientais.
Na abertura do evento, o coordenador do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde de Farmanguinhos (NGBS), Glauco Villas Boas, ressaltou que o mundo passa por um período de incertezas por conta das questões ambientais e climáticas gravemente afetadas pela economia predatória estabelecida pelos países ricos. “Portanto, há de se pensar no desenvolvimento econômico de maneira sustentável. Nesse sentido, procuramos organizar o seminário com temas e pessoas importantes para a inovação. Aqui tem profissionais de grandes indústrias, acadêmicos, estudantes, representantes de organizações, ativistas. Todos buscam um país melhor e mais livre do ponto de vista tecnológico”, disse.
O evento representa também a X Reunião da Rede Fito Mata Atlântica (RJ). “Esta rede tem se mostrado um modelo a ser compreendido pelas demais. Por isso é bom que as outras redes possam ver como funcionamos”, enfatizou Villas Boas. Ele disse ainda que a vantagem do conhecimento em rede é exatamente a troca de experiências, com informações que agreguem no desenvolvimento sustentável da biodiversidade brasileira.
O diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe, também participou da abertura e falou em superar os desafios. “Vamos continuar trabalhando para que a inovação de medicamentos da biodiversidade saia do discurso e entre de fato na prática. Tenho toda certeza de que o esforço de todos nós, principalmente do NGBS, seja recompensado, e que teremos um resultado exitoso daqui a algum tempo”, frisou. “O objetivo maior é melhorar a qualidade de vida e a saúde da população brasileira. Para isso, temos de enfrentar aspectos culturais para alcançar esses objetivos”, disse.
Estratégia Institucional - Assim como Hayne, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção à Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel, disse que o tema biodiversidade é um ponto que entrou de vez na agenda da Fiocruz. Ele parabenizou pelo esforço de reunir pesquisadores, ativistas, profissionais de industrias públicas e privadas, representantes do governo no seminário, e ressaltou que, no Brasil, nem todos que falam de sustentabilidade, observam também o desenvolvimento humano.
“Há uma luta cotidiana para dizer qual a perspectiva de desenvolvimento econômico. Então, o que se quer? A proposta é de desenvolvimento de medicamento fitoterápico de maneira sustentável. Essa é uma dimensão extremamente importante no país. A ideia é pensar na Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) fazendo a ligação ambiental, atenção à saúde, educação e desenvolvimento econômico”, ressaltou Rangel. Ele disse ainda que esses temas estão sendo debatidos na Fundação. “A perspectiva para o próximo ano é um Programa Institucional nas áreas de Pesquisa, Ensino, Desenvolvimento tecnológico e Inovação. Para se ter uma ideia, há uma série de ações voltadas para essa área na Fundação. São mais de 60 grandes projetos sendo estudados em todas as unidades. Obviamente, mais da metade está concentrada em Farmanguinhos. Então, a ideia é alinhar esses projetos buscando objetivos centrais. Isso é um esforço que direciona o país para um desenvolvimento efetivamente sustentável, que atenda às necessidades da população”, enfatizou.
Rangel disse ainda que em 2014 será organizado um seminário para debater aspectos econômicos, ambientais, educacionais e humanos relacionados à PNPMF. Ele anunciou ainda uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio (MDIC) e com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para investimentos em estudos na biodiversidade. “O MDIC nos informou que já há estudos que mostram o grande potencial dessa área e que querem trabalhar neste segmento”, revelou.
Tecnologia e Ensino – Ainda no primeiro dia de evento foi realizado o pré-lançamento do Sistema da Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos, denominado Sispaf, desenvolvido por Artur de Melo, da área de Tecnologia da Informação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). Trata-se de uma base de dados com todas as informações de plantas medicinais e fitoterápicos estudados na PAF. “Esta ferramenta é muito importante, já que teremos rastreabilidade total da espécie estudada”, disse Sandra Magalhães Fraga, coordenadora da PAF. Segundo ela, poderão ser armazenadas todas as informações, como perfil químico, rastreabilidade e confiabilidade, por exemplo.
O desenvolvedor da ferramenta, Artur Melo, disse que outra vantagem é que as informações serão disponibilizadas para as redes. “A expectativa é de lançamento piloto em meados de fevereiro próximo, para a equipe localizada no Hélio Fraga”, previu Melo.
A Gestora de Comunicação das RedesFito, Denise Monteiro, apresentou o novo site das Redes."Como a Rede crescia e precisava de uma comunicação mais veloz, criamos o novo portal, já que o anterior atendia às necessidades da época. Apesar das limitações orçamentárias, conseguimos, com muito esforço, e parceria com a TI de Farmanguinhos,elaborar o portal, através da metodologia de necessidades. O novo Portal não é somente um instrumento de comunicação, mas um instrumento de gestão”, assinalou.
Segundo o webdesigner Eugênio Telles, que desenvolveu o site, o objetivo foi elaborar uma plataforma para maior integração entre todos os envolvidos. Mais leve e claro, o novo portal mostra imagens dos sete biomas brasileiros, com textos de apresentação, notícias e outras informações.
A coordenadora do Curso de Especialização em Gestão da Inovação em Fitomedicamentos, Regina Nacif, apresentou o curso Lato Sensu na modalidade a distância. Com caráter multidisciplinar, e carga de 360 horas, o curso tem como princípio pedagógico a construção coletiva do conhecimento. “Na estrutura estão as disciplinas Inovação, Políticas Públicas do Setor, Biodiversidade, Gestão da Inovação, Ciências e Metodologias”, informou Regina Nacif. Ela disse ainda que a ideia foi disponibilizar o curso para os demais envolvidos nas Redes espalhadas em todo o Brasil e que não podem participar das aulas presenciais no Complexo Tecnológico de Medicamentos de Farmanguinhos (CTM). O Curso EAD é uma iniciativa em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz).
Durante o dia foram ministradas palestras como A inovação da biodiversidade com vistas ao desenvolvimento sustentável, proferida por Glauco Villas Boas; A dimensão do PD&I na inovação em medicamentos da biodiversidade, ministrada por João Batista Calixto, da universidade Federal de Santa Catarina; e Agroecologia como estratégia para inovação em medicamentos da biodiversidade em tempos de desenvolvimento sustentável, proferida por Sandra Magalhães Fraga, da PAF.
No segundo dia do evento foram apresentadas, duas mesas com experiências colocadas em prática no âmbito das redes, ou envolvendo seus atores, abordando os seguintes temas: Relato de experiências estruturantes para a inovação em medicamentos da biodiversidade e Experiências e propostas da REDEFITO Mata Atlântica. Nestas discussões estiveram presentes representantes dos APLs Itapeva, Grande BH, Triângulo Mineiro, Serrano, Grande Rio e Sul da Bahia.
O evento foi encerrado com a formalização do novo conselho gestor da REDEFITO-MataMata Atlântica RJ, que foi oficializada através da assinatura da “Carta Copmpromisso da Mata Atlântica RJ”.