Por: Alexandre Matos
O Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde do Instituto de Tecnologia em Fármacos (NGBS/Farmanguinhos) completa dez anos de sua criação. Para celebrar a data, a área promove um seminário durante três dias (29, 30/9 e 1º/10), cujo objetivo é avaliar a gestão durante essa década, bem como apresentar os projetos futuros. No primeiro dia do encontro, foi entregue ao diretor Hayne Felipe o “Portfólio Nacional de Inovação em Medicamentos da Biodiversidade: uma contribuição do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde para as políticas de Ciência, Tecnologia, Inovação e Saúde em tempos de sustentabilidade”.
O documento descreve um panorama para as políticas de ciência, tecnologia, inovação e saúde, justificando um novo caminho para o desenvolvimento de fármacos e medicamentos no Brasil. O trabalho em rede (RedesFito) realizado a partir de Arranjos Eco Produtivos Locais (AEPL) identificados nos principais biomas existentes no território nacional permite a formulação do projeto denominado Portfólio Nacional de Projetos de Inovação em Medicamentos da Biodiversidade.
Hayne parabenizou o Núcleo pelo trabalho exercido e destacou a importância da iniciativa, ao receber o portfólio de inovação. “A contribuição do NGBS é fundamental para buscar alternativas de terapias usando a biodiversidade, não somente fazendo a extração, mas desenvolvendo ali uma molécula e que seja sustentável no seu projeto por inteiro”, ressaltou.
Para Hayne, o objetivo maior é fazer a discussão de maneira que os envolvidos não fiquem vulneráveis à pressão mercadológica. “Não podemos ser reféns deste lado mercadoria que o medicamento tem: ou ele é um bem público ou mercadoria. E a gente vai vivendo dessa discussão de todos os jeitos. Existe uma ideia de movimento, de todos os sistemas, de procurar alternativas que garantam saúde, qualidade de vida da população e que talvez tenha uma forma de ser sustentável economicamente”, observou. “ Ao receber o portfólio, vamos fazer agora os encaminhamentos à Presidência da Fundação e continuar na nossa luta”, frisou.
O diretor lembrou as dificuldades encontradas no processo de formação de uma política como a exercida neste segmento. “Para mim, o lema é: o caminho não existe. O caminho, o caminhante faz ao caminhar. Por isso, ao longo desses dez anos nós temos tentado junto com o NGBS desenvolver a fitoterapia dentro do Brasil. Nós da Direção, se pudermos ajudar, todos os esforços serão feitos. Vamos agora apresentar este trabalho à Fiocruz, e traçar um plano de ação para que a gente possa, quem sabe, chegar ao que almejamos. Ou seja, que possamos chegar a mais fitoterápicos”, assinalou.
Sustentabilidade - O coordenador do NGBS, Glauco Villas-Bôas, explicou que o Portfólio de Inovação da Biodiversidade é uma construção na qual foram usados elementos de várias frentes. “O documento foi construído pelos atores regionais. É totalmente inovador, uma vez que não vem do Ministério para baixo, pelo contrário, trata-se de uma proposta da sociedade para cima, mostrando de que forma pode contribuir. É também uma contribuição que se coloca numa política de sustentabilidade, principalmente porque é inegável que este tema (sustentabilidade) está na pauta de todo mundo”, observa.
Em relação ao cenário político atual, em meio à crise econômica e à situação climática pela qual o Brasil atravessa, Villas-Bôas acredita que iniciativas como a do NGBS deveriam ser melhor aproveitadas. “Medidas de ciência e tecnologia deveriam ser adotadas diante das crises econômica e climática. No meio desta discussão, surge a proposta do portfólio, que é uma proposta concreta, com uma vertente de P&D como alternativa de inovação a partir da biodiversidade”, destacou.
Portfólio – No último junho, durante a Assembleia Socioanalítica – uma atividade relativa ao Curso de Especialização em Gestão da Inovação em Fitomedicamentos –, foram discutidas e sugeridas as bases do Portfólio. A atividade reuniu professores, socioanalistas franceses (intercâmbio previsto no acordo de cooperação Fiocruz/Universidade de Paris 8 assinado em 2014), estudantes e colaboradores do NGBS. A proposta contida no documento final destina-se aos Ministros da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação, almejando a legitimação das RedesFito, bem como a viabilização do Projeto Portfólio da Inovação em Medicamentos da Biodiversidade.
Fonte: Intranet Farmanguinhos