Fonte: agazeta.com.br

A estratégia de sucesso da Coreia do Sul para conter a Covid-19 está diretamente relacionada à capacidade do país de realizar testes de detecção do novo coronavírus na população. Esta é a única forma de mapear a doença, com elevado grau de assintomáticos que, mesmo aparentemente saudáveis, são foco de contaminação.

Há alguns dias, a Coréia do Sul divulgou que, ao menos 116 pessoas supostamente recuperadas voltaram a apresentar o vírus em novos exames, sendo a reincidência um aspecto ainda nebuloso da Covid-19 para os cientistas. Contudo é possível dizer que a política de testagem em massa no país esteja contribuindo até mesmo para essa investigação, essencial para projeções sobre a pandemia nos próximos meses.

No Brasil, mesmo que tenha havido promessa de mudança de protocolo há algumas semanas, o "testar, testar e testar" preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a baixa capacidade de testagem do país acabou moldando as decisões a serem tomadas, com somente os casos graves sendo diagnosticados na fase inicial.

Atualmente, entre os 15 países mundialmente mais atingidos pela Covidi-19 o Brasil é o 14º do em casos e o que menos testa. Só são testados apenas doentes graves, mortos e profissionais de saúde. Tal situação gera um alto índice de subnotificação, inevitável e perigosa.

Não podemos desconsiderar que a dependência de insumos importados para os exames seja implacável em todo o mundo, mas a visão estratégica de alguns países faz a diferença na crise. A Alemanha, que apresenta bons resultados mundiais no combate à pandemia, realiza muitos testes no país, até 500 mil diagnósticos por semana, das pessoas com sintomas leves às que não manifestam a doença. Nessa estratégia de detecção precoce o governo alemão se antecipou à crise: ainda em janeiro, quando a epidemia ainda estava incipiente na Ásia, o país começou a produzir testes. O resultado se vê agora.

Sem os testes disseminados, o que se enxerga da pandemia no Brasil, é apenas a ponta do iceberg, com milhares de casos não diagnosticados. A escassez de testes somada ao isolamento social mais brando pode prolongar o período da Pandemia. A nova previsão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de que o pico se estenda até julho é um dos resultados dessa falta de estratégia mais comprometida.

A falta de investimentos brasileiros na indústria de biotecnologia cobra seu preço: a escassez de insumos. Capacidade técnica existe, o Instituto Butantã, tem um projeto que prevê realizar 8 mil testes por dia, mas até a semana passada esperava a chegada de reagentes importados. A carência em ciência e tecnologia fica clara quando essas áreas são requisitadas. Um erro estratégico, uma falha em qualquer projeto de país que se pretenda soberano. O Brasil está sendo testado nessa crise, não pode sair dela sem aprender essa lição.